Categoria: Existencialistas

Existencialistas

  • O Fio da Literatura – Animal Tropical

    O Fio da Literatura – Animal Tropical

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    O panorama do bairro as sete da manhã é muito tranquilo. O Chino, com sua cara de ressaca e fome perante, bate suas botas duras, tesas, para soltar as crostas de cimento. Três ou quatro sujeitos manipulam uns paus e pregos: escoram aquele edifício que evacuaram semana atrás. Dizem que querem consertá-lo.
    Duvido, me parece estragado demais. Yiye levanta cedo: tem um táxi na frente do quarto. Ela entrega um pacotinho ao motorista. Erva ou pó. O sujeito parte depressa e some pelo Malecón. As duas putas da esquina volta da noite. Uma negra e uma morena mais clara. Muito jovens, de olheiras, fumando sem parar, com uns vestidos acetinados, largos brilhantes, sapatos cinzentos de salto alto.
    Levam alguma coisa na sacola plástica: presentes dos estrangeiros. Um negro tira água do poço que há no meio da rua. Novo a água desapareceu das tubulação. Faz seis dias que não chega nem uma gota no bairro. Os policiais nas esquinas. Um sujeito com um triciclo cheio de flores. Outro pedala lentamente a sua bicicleta. Um varredor esfarrapado, velho, sujo muito desnutrido pela vida, varre a água podre de uma poça e espalha para que seque ao sol. Os esgotos estão entupidos. Aquilo fede, mas o varredor não reclama, enfiado na água, e brinca sem pressa, como um menino. Essa é a impressão que dá: está brincando com aquela merda, enfiando na poça, varrendo devagar, encharcando os pés com água podre e fétida. O mar encrespado. A última frente fria deste inverno lançando vento e salitre sobre a cidade. As ondas rebentam contra o muro do Malecón, forman uma espuma branca e encharcam a rua e os edifícios. Amanhece. A cidade se ilumina pouco a pouco.
    Quase todos ainda estão dormindo. H apouco movimento. O bairro desperto. Ninguém trabalha. Ou poucos trabalham. Muito poucos. Portanto não há pressa. As pessoas acordam e se põem em ação pausadamente. Por volta das dez da manhã haverá um pouco de movimento. Por ora, está tudo tranquilo.
    Pedro Juan.

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  • Navalhadas Curtas: Pseudo-Atropelamento Reverso

    Navalhadas Curtas: Pseudo-Atropelamento Reverso

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    Me considero um motorista razoável.
    Tento andar dentro das leis, minha natureza é lenta, ando devagar sempre. Na real sou um apreciador da paisagem urbana.
    Não corro.
    Ligo o carro, sintonizo a RadioCom, e vou escorregando suave nas ruas molhadas pela chuva, ta certo as vezes não tão suaves ruas assim !
    Estou indo pelo Juscelino pela direita, então uma senhora vê o carro se aproximando, estou a 47 km, então ela me olha nos átimos de segundos que sugerem o curso, o carro aproxima-se dela, ela ainda está parada aguardando.
    Não havia faixa de segurança no local( a faixa estava a 50 metros a frente) então ela faz o impensável a razão, se atravessa na frente do carro, me forçando uma parada brusca com direito a borracha queimada e carro meio atravessado na rua para que o pior não acontecesse.
    Deu certo, não vinha ninguém atrás de mim e a senhora ficou intacta sem danos.
    Ela seguiu atravessando a rua, como seu nada tivesse acontecido, como nada nesta vida existisse.
    Respiro fundo e de certa forma queria entender o porquê?
    Não tive chance.
    Então ela depois que atravessou, olhou para trás viu o carro ainda meio atravessado, mas ela apenas virou o rosto e seguiu seu caminho em paz.
    Fio da Navalha.

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  • Navalhadas Curtas: Preconceito se aprende em ?

    Navalhadas Curtas: Preconceito se aprende em ?

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    Precisava ir na padaria. Fiz todo o ritual de saída, máscara e cuidados, me vesti de distanciamento social e fui caminhando lentamente.
    Gosto do vento na rua, respirar com calma.
    Nunca sabemos quando algo pode nos surpreender. Nunca.
    Entro na padaria de subúrbio. Um rapaz controlava quem entrava ou saia. Tudo nos conformes.
    Uma criança de uns seis ou sete anos aparentemente e sua mãe estão no interior da padaria. Aguardam um bolo.
    Pego o que preciso e me direciono a fila do caixa que tinha duas pessoas. Então a senhora a e criança pegam o bolo e ficam justamente atrás de mim na fila.
    Então o menino fala assim:
    -Mamãe por que esse negro está na nossa frente?
    Me viro lentamente olho sério para a mãe que está mandando o filho ficar quieto, com dedo indicador frente aos lábios.
    A mãe não diz nada pra mim.
    Porem e a criança na sua pueril inocência segue: Mamãe lá em casa tu sempre diz que os negros não são nada…
    A padaria fica em silencio, talvez aguardando minha atitude ou estavam chocados?
    O caixa me atende apenas balançando a cabeça de forma reprovando a cena. Eu fico pensando se talvez devesse dizer algo mas não sentia vontade alguma.
    Além do mais os olhares de todos la estavam já dizia muito. Peguei minhas coisas e sai caminhando lentamente na rua no vento e com coração batendo estranho e com apenas uma certeza: não foi a primeira e não será a última vez que isso acontece.
    Fio da Navalha.

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  • Pérola do dia: Nelson Rodrigues

    Pérola do dia: Nelson Rodrigues

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  • Navalhadas Curtas: E você é especial?

    Navalhadas Curtas: E você é especial?

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    Quem diria que ir ao supermercado poderia se tornar um desafio mortal?
    Fora o vírus que “ataca” o bolso, mesmo cumprindo todos os protocolos garantias não existem.
    Eu precisava de vinho e alguma comida. Uma pandemia sem vinho o isolamento torna-se um suplício que devemos evitar, já que carregamos dores suficientes.
    Entro em um conhecido super, tento ser breve, objetivo e rápido. Chego ao caixa em 5 minutos depois de ter entrado no super.
    Então uma senhora, muito educada usando luvas de borracha preta, vestindo-se sofisticadamente, mas com um requinte silencioso. Tinha grana.
    O caixa passa o cartão para a senhora e então, uma nota é emitida pela máquina, o caixa lê a nota e entrega para a senhora com alguma satisfação dizendo:
    -Olha Dona fulana, a senhora acaba de ganhar um rancho no valor de tanto.
    Presto mais atenção.
    A senhora educadamente diz: nossa, que coisa positiva. Nas próximas compras posso usar este crédito?
    -Claro a senhora pode usar quando quiser.
    Fico olhando a situação e pensando: como será que se faz para ganhar ?
    A senhora coloca as compras no carrinho e sou o próximo atendido pela caixa da “sorte”.
    Antes de mais nada eu pergunto: Como faz para ganhar um rancho neste valor?
    A resposta foi algo.
    -Apenas pessoas especiais ganham este prêmio !?
    -Heim? E como a gente se torna alguém especial?
    -Ahh não sei senhor…é algo do sistema.
    Fico meditando, em silencio enquanto ela registra minhas compras afinal, eu posso ser alguém especial também.
    A nota sai e ela olha e me diz:
    -Deu 158 reais, é cartão ou dinheiro?
    Frustração sorrindo amarelo, eu não sou especial.
    E você?
    Fio da Navalha.
    Fio da Navalha.

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  • Pérola do dia:  Mandrake

    Pérola do dia: Mandrake

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  • Navalhadas Curtas:  Folhetos em Fúria

    Navalhadas Curtas: Folhetos em Fúria

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    Olho pela janela as ruas de Pelotas, não se parecem com um tempo de pandemia mortal. Tudo normal ou quase normal. Proximidades, falta de máscaras, germes e vírus. Naturalmente pouco entendimento.
    Desço para pegar a correspondência, os correios ainda estão em greve? Se estão as minhas contas não sabem disso. Seguem chegando com toda normalidade possível.
    No portão do prédio uma linda e triste moça entregava folhetos de propaganda, ela os enfiava nas caixas dos correios freneticamente.
    Ela está impaciente, incomodada com raiva ou com alguma daquelas dores que fazem a gente colocar para fora nosso pior… a raiva do mundo.
    -Bom dia – digo eu.
    Ela me olha com olhar estranho e não responde. O chato insiste::
    -Difícil colocar estas coisas nas caixas né… essa entrada é fina…bem
    -Difícil senhor? É impossível…sabe…é impossível, impossível ( já com a voz alterada ).
    Não digo mais nada, fico olhando pra ela, sei que não está bem.
    Pego alguns folhetos e ajudo ela a terminar de enfiar nas caixas de correio o mais rápido possível. E termina. Não falamos nada.
    Então ela juntas suas coisas e sai em silencio, caminhando pesado. Fico olhando-a se afastando e pensando cá com meus botões que merda será que tem na vida dela para estar assim?
    Como uma resposta telepática a moça que estava se afastando para no meio da quadra e grita: desculpa moço…minha vida ta uma merda!
    Disse isso se seguiu e segui seu caminho sumindo na próxima esquina.
    Fio da Navalha.

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