Categoria: Fio da Poesia

Poética

  • Reinaldo Arenas – Aquela criança de sempre

    Reinaldo Arenas – Aquela criança de sempre

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    Sou esse menino desagradável,
    sem dúvida inoportuno,
    de cara redonda e suja,
    que fica nos faróis,
    onde as grandes damas tão bem iluminadas,
    ou onde as meninas que parecem levitar,
    projetam o insulto de suas caras redondas e sujas.

    Sou uma criança solitária,
    que o insulta como uma criança solitária,
    e o avisa:
    se por hipocrisia você tocar na minha cabeça,
    aproveitarei a chance para roubar-lhe a carteira.

    Sou aquela criança de sempre,
    que provoca terror,
    por iminente lepra,
    iminentes pulgas, ofensas,
    demônios e crime iminente.

    Sou aquela criança repugnante,
    que improvisa uma cama de papelão
    E espera, na certeza,
    que você me acompanhará.

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  • Os Amantes – Julio Cortázar

    Os Amantes – Julio Cortázar

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    Quem os vê andar pela cidade,

    Se todos estão cegos

    Eles se dão as mãos

    E algo falam entre seus dedos

    Línguas doce

    Lambem úmida palma

    Correm pelas falanges

    E acima esta a noite

    Cheia de olhos

    São os amantes

    Sua ilha flutua a deriva

    Rumo a mortes de relva

    Rumo a portos

    Que se abrem entre lençóis

    Tudo se desordena

    Através deles

    Tudo encontra

    Sua cifra escamoteada

    Mas eles

    Nem sequer sabem

    Que, enquanto rolam

    Na sua amarga areia

    Há uma pausa

    Na obra do nada

    O tigre é

    Um jardim que brinca

    Amanhecem

    Os caminhões de lixo

    Os cegos começam a sair

    O ministério

    Abre suas portas

    Os amantes, exaustos

    Se olham e se tocam

    Mais uma vez

    Antes de cheirar o dia

    Já estão vestidos,

    Já vão para a rua

    E é só então,

    Quando estão mortos

    Quando estão vestidos,

    Que a cidade

    Os recupera, hipócrita

    E lhes impõe

    Suas obrigações cotidianas

    Julio Cortázar

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  • Saudade do Futuro

    Saudade do Futuro

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    Quando a distância parece próxima

    A verdade segreda

    Ao ouvido

    Nos silêncios que se aglutinam

    Ao orvalho e as teias matinais

    Sinto falta do que ainda não aconteceu

    Dentre o momento mais só

    A impossibilidade do porvir

    Intimidade e vertentes

    Como um pensamento vago

    Mas que não vaga

    De tudo que não aconteceu

    Estes sorrisos que ainda não foram dados

    Beijos que ainda não molharam lábios

    Despedidas que virão

    Quando?

    Gosto ainda não sentido, da comida ainda não inventada

    Mares que andaremos, quem sabe…

    E destinos que ainda não foram desvelados

    Saudade de partir

    Saudade do reencontro

    Saudade de chegar onde eu ainda não sei

    Como partes que se desfazem e continuam inteiras

    Visgos entrementes

    Da extrema sutileza

    Da vinda que ainda não veio

    Dos verões de amanha

    Saudade da cura

    Da brisa

    Saudade de um tempo que ainda não veio

    Saudade do que eu desconheço

    De planos não feitos

    Das lacunas

    Hiatos

    E silencio

    Saudade muda.

    Muda

    Muda.

     Luís Fabiano.

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  • Sem Chance de ajuda

    Sem Chance de ajuda

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    Há um lugar no coração que

    Nunca será preenchido

    Um espaço

    E mesmo nos

    Melhores momentos

    E

    Nos melhores

    Tempos

    Nós saberemos

    Nós saberemos

    Mais que

    Nunca

    Há um lugar no coração que

    Nunca será preenchido

    E nós iremos esperar

    E esperar

    Nesse

    Lugar.

    Charles Bukowski
    Essa loucura roubada
    Extraído da obra :
    Que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém.
    
    

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  • Fragilidade – Martim César

    Fragilidade – Martim César

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    Fragilidade

    (para Rigoberta Menchú)

    Uma mulher lutando contra um império.

    Uma mulher detentora da força de todo um povo.

    Um mulher índia. Latinoamericanamente índia.

    Uma mulher gritando a vida dos seus mortos.

    Ele aniquilados, torturados, desaparecidos.

    (nela ressuscitados, renascidos, redivivos).

    Eles, aos milhares, as centenas de milhares.

    Fuzilados, trucidados, engolidos pela terra.

    Eles, agora envoltos pelas mesma mortalha

    feita da terra a que pertenciam

    E que a eles pertencia.

    Eles reerguendo-se, levantando-se, renovando-se

    Na eternidade cíclica da arvore e da semente

    Uma mulher somente, e que é muitas mulheres.

    Uma mulher apenas, e que é todas as mulheres.

    Rompendo casulos, levantando véus, saindo da casca,

    Descobrindo-se livre por si mesma,

    Sem liberdades oferecidas ou alforriadas.

    Uma mulher liberta e não libertada.

    Martim César

    Dez Sonetos Delirantes (e um Quixote sem cavalo)

    Pag.79

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  • Transalucinação

    Transalucinação

    [vc_row][vc_column width=”1/1″][vc_column_text css_animation=”right-to-left”]

    Eu vejo coisas
    Coisas que se movem
    Que formam
    E desaparecem
    Eu vejo…
    Em uma tela empoeirada
    O rosto de um senhor
    E em azulejos úmidos desenhos abstratos
    A moça que sorri
    Vejo nas nuvens
    Cavalos alados correndo, correndo…
    Em troncos cortados
    Vórtices e tornados tecidos de sonhos
    No asfalto que ferve
    Caracóis sem pressa
    Onde tudo corre
    Nas folhas secas
    Um leão adormecido
    Em paredes gastas e carcomidas
    Uma criança correndo ao vento
    Num arranhão da tinta
    Uma estrada que se termina lentamente em cor
    Na cicatriz do teu abdômen
    O sorriso de um anjo correndo no quintal
    Em alamedas iluminadas de neon
    Vagalumes coloridos
    Eu vejo sem querer
    Como vitrais vivos de caleidoscópio
    Capturando minha alma…
    Um vigia em alta noite
    Procurando nas estrelas
    O outro vigia…
    E você vê?

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  • Martim César

    Martim César

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    Minha vida é um quebra cabeças,

    Onde sempre está faltando alguma peça.

    Sempre que tenho monta-lo

    A peça que falta já não é a mesma.

     

    Martim César

    Obra :Sobre Amores e Outras Utopias

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