Categoria: Textos

  • Navalhadas Curtas: Pseudo-Atropelamento Reverso

    Navalhadas Curtas: Pseudo-Atropelamento Reverso

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    Me considero um motorista razoável.
    Tento andar dentro das leis, minha natureza é lenta, ando devagar sempre. Na real sou um apreciador da paisagem urbana.
    Não corro.
    Ligo o carro, sintonizo a RadioCom, e vou escorregando suave nas ruas molhadas pela chuva, ta certo as vezes não tão suaves ruas assim !
    Estou indo pelo Juscelino pela direita, então uma senhora vê o carro se aproximando, estou a 47 km, então ela me olha nos átimos de segundos que sugerem o curso, o carro aproxima-se dela, ela ainda está parada aguardando.
    Não havia faixa de segurança no local( a faixa estava a 50 metros a frente) então ela faz o impensável a razão, se atravessa na frente do carro, me forçando uma parada brusca com direito a borracha queimada e carro meio atravessado na rua para que o pior não acontecesse.
    Deu certo, não vinha ninguém atrás de mim e a senhora ficou intacta sem danos.
    Ela seguiu atravessando a rua, como seu nada tivesse acontecido, como nada nesta vida existisse.
    Respiro fundo e de certa forma queria entender o porquê?
    Não tive chance.
    Então ela depois que atravessou, olhou para trás viu o carro ainda meio atravessado, mas ela apenas virou o rosto e seguiu seu caminho em paz.
    Fio da Navalha.

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  • Navalhadas Curtas: Preconceito se aprende em ?

    Navalhadas Curtas: Preconceito se aprende em ?

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    Precisava ir na padaria. Fiz todo o ritual de saída, máscara e cuidados, me vesti de distanciamento social e fui caminhando lentamente.
    Gosto do vento na rua, respirar com calma.
    Nunca sabemos quando algo pode nos surpreender. Nunca.
    Entro na padaria de subúrbio. Um rapaz controlava quem entrava ou saia. Tudo nos conformes.
    Uma criança de uns seis ou sete anos aparentemente e sua mãe estão no interior da padaria. Aguardam um bolo.
    Pego o que preciso e me direciono a fila do caixa que tinha duas pessoas. Então a senhora a e criança pegam o bolo e ficam justamente atrás de mim na fila.
    Então o menino fala assim:
    -Mamãe por que esse negro está na nossa frente?
    Me viro lentamente olho sério para a mãe que está mandando o filho ficar quieto, com dedo indicador frente aos lábios.
    A mãe não diz nada pra mim.
    Porem e a criança na sua pueril inocência segue: Mamãe lá em casa tu sempre diz que os negros não são nada…
    A padaria fica em silencio, talvez aguardando minha atitude ou estavam chocados?
    O caixa me atende apenas balançando a cabeça de forma reprovando a cena. Eu fico pensando se talvez devesse dizer algo mas não sentia vontade alguma.
    Além do mais os olhares de todos la estavam já dizia muito. Peguei minhas coisas e sai caminhando lentamente na rua no vento e com coração batendo estranho e com apenas uma certeza: não foi a primeira e não será a última vez que isso acontece.
    Fio da Navalha.

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  • Pérola do dia: Nelson Rodrigues

    Pérola do dia: Nelson Rodrigues

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  • Navalhadas Curtas: E você é especial?

    Navalhadas Curtas: E você é especial?

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    Quem diria que ir ao supermercado poderia se tornar um desafio mortal?
    Fora o vírus que “ataca” o bolso, mesmo cumprindo todos os protocolos garantias não existem.
    Eu precisava de vinho e alguma comida. Uma pandemia sem vinho o isolamento torna-se um suplício que devemos evitar, já que carregamos dores suficientes.
    Entro em um conhecido super, tento ser breve, objetivo e rápido. Chego ao caixa em 5 minutos depois de ter entrado no super.
    Então uma senhora, muito educada usando luvas de borracha preta, vestindo-se sofisticadamente, mas com um requinte silencioso. Tinha grana.
    O caixa passa o cartão para a senhora e então, uma nota é emitida pela máquina, o caixa lê a nota e entrega para a senhora com alguma satisfação dizendo:
    -Olha Dona fulana, a senhora acaba de ganhar um rancho no valor de tanto.
    Presto mais atenção.
    A senhora educadamente diz: nossa, que coisa positiva. Nas próximas compras posso usar este crédito?
    -Claro a senhora pode usar quando quiser.
    Fico olhando a situação e pensando: como será que se faz para ganhar ?
    A senhora coloca as compras no carrinho e sou o próximo atendido pela caixa da “sorte”.
    Antes de mais nada eu pergunto: Como faz para ganhar um rancho neste valor?
    A resposta foi algo.
    -Apenas pessoas especiais ganham este prêmio !?
    -Heim? E como a gente se torna alguém especial?
    -Ahh não sei senhor…é algo do sistema.
    Fico meditando, em silencio enquanto ela registra minhas compras afinal, eu posso ser alguém especial também.
    A nota sai e ela olha e me diz:
    -Deu 158 reais, é cartão ou dinheiro?
    Frustração sorrindo amarelo, eu não sou especial.
    E você?
    Fio da Navalha.
    Fio da Navalha.

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  • Pérola do dia:  Mandrake

    Pérola do dia: Mandrake

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  • O Fio da Literatura | Rubem Fonseca

    O Fio da Literatura | Rubem Fonseca

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    “…pouco depois, Luma abriu a porta da minha sala para dar passagem a visitante.
    Era uma mulher jovem, esguia, vestida com elegante discrição, parecia ter saído de um conto de fadas com seu rosto inocente, sua tez clara e os cabelos de um castanho-claro.
    A visão de uma mulher bonita é sempre uma espécie de epifania, o aparecimento de uma divindade, e o sentimento que nos domina, não fosse presidido por Eros, seria parecido com aquele a musica desperta em nós.
    Não tenho vergonha da minha libido, e a energia fisiológica e psíquica associada a toda atividade humana construtiva; ela se opõe a Tanatos, o instinto de morte, fonte de todos os impulsos destrutivos.
    Sei que para o muitos esse raciocínio é mais literário do que cientifico, e pode parecer que estou usando Freud para fazer minhas racionalizações.
    O que posso responder?
    Obra: Mandrake a Bíblia e a Bengala

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  • Navalhadas Curtas:  Folhetos em Fúria

    Navalhadas Curtas: Folhetos em Fúria

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    Olho pela janela as ruas de Pelotas, não se parecem com um tempo de pandemia mortal. Tudo normal ou quase normal. Proximidades, falta de máscaras, germes e vírus. Naturalmente pouco entendimento.
    Desço para pegar a correspondência, os correios ainda estão em greve? Se estão as minhas contas não sabem disso. Seguem chegando com toda normalidade possível.
    No portão do prédio uma linda e triste moça entregava folhetos de propaganda, ela os enfiava nas caixas dos correios freneticamente.
    Ela está impaciente, incomodada com raiva ou com alguma daquelas dores que fazem a gente colocar para fora nosso pior… a raiva do mundo.
    -Bom dia – digo eu.
    Ela me olha com olhar estranho e não responde. O chato insiste::
    -Difícil colocar estas coisas nas caixas né… essa entrada é fina…bem
    -Difícil senhor? É impossível…sabe…é impossível, impossível ( já com a voz alterada ).
    Não digo mais nada, fico olhando pra ela, sei que não está bem.
    Pego alguns folhetos e ajudo ela a terminar de enfiar nas caixas de correio o mais rápido possível. E termina. Não falamos nada.
    Então ela juntas suas coisas e sai em silencio, caminhando pesado. Fico olhando-a se afastando e pensando cá com meus botões que merda será que tem na vida dela para estar assim?
    Como uma resposta telepática a moça que estava se afastando para no meio da quadra e grita: desculpa moço…minha vida ta uma merda!
    Disse isso se seguiu e segui seu caminho sumindo na próxima esquina.
    Fio da Navalha.

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