Categoria: Textos

  • Palavras do mestre – Bukowski

    Palavras do mestre – Bukowski

    [vc_row][vc_column width=”1/1″][vc_column_text css_animation=”bottom-to-top”]“Andou até o bar e pediu um drinque de vodca. Olhou em volta. Todas as mulheres pareciam mais jovens, leves, cheias de piadinhas nessa seção privilegiada do hipódromo.

    Até mesmas mulheres mais velhas eram bonitas. Isso entristeceu Henry. Por que as mulheres da plebe tinham de ser tão feias? Não era justo. Mas o que era justo?

    Houve alguma época justa para o homem comum?

    Toda aquela merda sobre democracia e oportunidades que lhes foi empurrada goela abaixo era só para evitar que eles incendiassem os palácios.

    Claro, de tempo em tempos um conseguia se erguer de entre os entulhos e vencer. Mas para cada um desses havia centenas de milhares metidos nos subúrbios ou em uma prisão ou nos hospícios, ou suicidas ou drogados ou bêbados.

    E muitos mais trabalhando por salários de merda em empregos deploráveis, jogando os anos fora mergulhados na mera subsistência.

    A escravidão não havia sido eliminada, havia apenas sido ampliada para abarcar nove décimos da população. Em todo lugar. Puta merda”.

     

    Charles Bukowski – Miscelânea Septuagenária.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width=”1/1″][vc_single_image image=”7869″ css_animation=”appear” alignment=”right” style=”vc_box_shadow_3d” border_color=”grey” img_link_target=”_self”][/vc_column][/vc_row]

  • O aprendizado

    O aprendizado

    [vc_row][vc_column width=”1/1″][vc_column_text css_animation=”right-to-left”]

    Toda história tem várias versões. Nunca esqueças isso!
    Cada realidade social é sentida e compreendida de acordo com as vivências subjetivas de cada ser.
    E é no cotidiano, no dia a dia, que o sujeito mostra sua face, seus medos, angustias, egoísmo, bipolaridades, autoritarismo, machismo, racismo…
    E é só no convívio diário que as palavras ganham vida.
    Não adianta dizer que me ama, e ter nojo da minha cor
    Não adianta dizer que me ama e não me respeitar em minha trajetória
    Não adianta dizer que me ama e nem sequer me ouvir.
    O conflito mostra a verdadeira face do sujeito, o sujeito animal, não racionalizado.
    E agora fica a pergunta:
    Quem você quer realmente conhecer?
    A beleza do artista, ou a esquizofrenia de sua alma ?
    Eu digo: a esquizofrenia de sua alma. O veneno de sua seiva.
    É melhor te conhecer por teus atos.
    E nunca pela fantasia e sedução de tuas máscaras.

    [/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

  • Sarjetas Iluminadas – Pensadores lunares

    Sarjetas Iluminadas – Pensadores lunares

    [vc_row][vc_column width=”1/1″][vc_column_text css_animation=”bottom-to-top”] Por vezes é bom ser vitima do acaso. Quando coisas boas nos encontram. Nem sempre é possível. É bom que seja assim incerto, prazeres que se repetem tornam-se oxidados, cansados previsíveis como um peixes no aquário, peixes felizes?

    Estranhamente gostamos é disso, as linhas seguras, firmes que dão certo, ainda que seja um certo ensebado, graxoso, vaselinado de medo…trem nos trilhos. Eis nossa felicidade, e sacrifício pleno, e assim nos colocamos para alcança-la. Sem duvida é mais fácil, viver fora do cercado é pra poucos.

    Olho através da janela do trabalho, entre estes pensamentos errantes… sou assim, gosto de filosofia barata, trocar ideias do eu não sou eu… e olhar a noite. A noite cai modorrenta sem promessas de nada… dia vestindo-se sombras.

    Minha sala de trabalho, agora tomando forma mais ordenada, me faz sorrir mais confiante. É preciso alguma ordem na vida, nada demasiado ou inflexível. Tudo se modifica em nós e fora de nós… ainda que silenciosamente e imperceptivelmente… a serpente rastejando lentamente em vão escuro, cura e perigo. Um dia não somos mais os mesmos.

    Como já sabem, tenho meu ritual sagrado. Saio do trabalho, próximo as vinte e três horas chego em casa, com sede. Não sei o que estava havendo no meu prédio. As baratas estão disputando espaços com os moradores. Não esquento a cabeça… poderiam ser ratos, não é? Baratas são toleráveis. Afinal é preciso respeitar um ser que sobreviveria a hecatombe atômica… nós viramos poeira… e baratas sorriem. Penso o que Darwin diria sobre isso… a sobrevivência dos mais adaptados.

    Sento-me a mesa da sala… com uma garrafa de rum quase cheia, meu pote ouro. Uma pedra de gelo e sirvo delicadamente. O primeiro gole é sempre como adentrar um quarto de uma virgem, a primeira tragada do cigarro, o beijo prometido do amor, o olhar de um filho.

    Chego á janela aberta… puxa como a noite esta linda hoje, irresistível. O primeiro copo de rum é morto rapidamente, fazendo acordar inquietações em mim, coração bate mais forte. Então entro numas… olho relógio são quase meia noite. Tenho que sair de casa, preciso ir pra rua.. o cheiro das ruas, noite, álcool, fumaça dos cigarros abandonados e suor de um dia. Meu celular parece morto. Não brilha, não grita… nada. Por andariam as pessoas ?

    Matei o segundo copo de rum caprichado. Sentia as turbinas a pleno vapor. Subi no carro e fui em direção ao Porto.

    Onde mais seria?

    Na minha segunda casa, o Bar do Sujeira. Estaciono o carro, o bar estava tranquilo, parado… sem musica, o mesmo rosnar de Sujeira, o seu eterno mal humor… algumas poucas pessoas ali, bebiam tranquilas

    -E aí Sujeira? Tudo bem?

    -Rrrrr é…claro.

    -Por que tudo parece tão calmo hoje?

    -Rrrrr… sei-lá… me parecem normais.

    O que há de errado? Pensei.

    Nem sempre existem respostas prontas e confortáveis. Como uma mosca varejeira eu sabia que não era ali meu lugar. Fui embora, ronronando o Kadett pelas ruas do porto vazio.

    Não tinha pressa, fui olhando lentamente todos os vãos escuros a procura de que? Não importa. Sou mexido pelo acaso. Queria encontrar alguma ação, alguém, um abraço, um assalto, uma prostituta drogada, um beijo, um poema sideral, uma vagina de ouro. Mas tudo estava uma merda, bares vazios, fechados em uma quarta feira que naufragava, me levando junto ao fundo.

    Paro o carro próximo a praça da Alfandega, olhando o porto vazio, guindastes , ossos de metal abandonado. Vasculhei o porta-luvas atrás do ultimo charuto. Desci do carro, acendi e me encostei no carro sorvendo silêncios, estrelas e minha inquietação.

    Não temos o controle de coisa alguma, a vida precisa de conjunções as vezes… eu estava isolado naquele instante.

    Uma valeta podre refletia as estrelas, fantasmas noturnos circundavam perdidos, e os neons todos estavam apagados.

    Subitamente escuto alguém assoviando longe. Aquela musica eu conhecia… era um jazz de Duke Ellington, In a Sentimental Mood… sensacional. Era como quase como lágrimas santas vindas de um céu afogado em fumaça. Então aquele ser vagando na escuridão da rua… passo a passo. Foi clareando a cada passo… um terno branco… chapéu panamá também branco, ligeiramente inclinado sobre o olho esquerdo. Não senti medo, estava disposto a aceitar o destino, seja ele qual fosse. Era impossível não pensar em violência…

    Então ele chega até mim:

    -Boa noite senhor…

    Aquela voz eu conhecia… Sebastian?

    Então a risada sardônica revelou. O próprio.

    -Yes meu brother… Sebastian… o fantasma da ópera, o ilusionista obscuro, o chicoteador de silêncios…o porra do diabo e a semente de Deus.

    -E esse terno cara? Porque vestido assim?

    -Sempre quis vestir algo assim… e vagar por ai…meio Zé Pilintra…e Zé Pilantra…

    -Mas Fabiano… mas o que fazes aqui?

    -Atrás de ação… porem nada aconteceu… então…

    -A vida é feita de simultaneidades naturais… e entender a vida é fazer que nossa natureza mergulhe na correnteza do viver…

    -Sei… então hoje nada vai acontecer?

    -É isso… nada… vai pra casa.

    -E tu? Vai ficar por ai caminhando sozinho? Uma carona?

    -Não. Tá tudo em paz… estamos sempre sozinhos.

    Sebastian foi se afastando, assoviando a mesma canção.

    Eu não brigaria com o destino errante. Aquela madrugada havia ficado longa demais, solitária demais. Tomei um ultimo drink em casa, e adormeci na sala entre as baratas .

    Luís Fabiano[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

  • Alegria das coisas Simples

    Alegria das coisas Simples

    [vc_row][vc_column width=”1/1″][vc_column_text css_animation=”appear”]

    Felicidade é algo grande demais…
    E ai fica muito difícil
    Mas momentos de alegria
    Isso sim é mais palpável…
    E simples

    Coçar o dedão do pé
    Um copo d’água no calor
    Matar uma saudade
    Dar um beijo em quem gostamos
    Ficar no sol no inverno
    Estar e silencio

    Uma música que acorda memórias
    Fazer a diferença quando tudo está acomodado
    Olhar crianças brincando
    Espreguiçar-se
    Poder ver o mundo
    Apreciar o luar

    Ter um trabalho
    Deixar-se encantar
    Colocar os pés nus na grama
    Sentir o amor por qualquer ser vivo
    Comer algo que gostamos muito
    Tirar uma boa soneca
    Cantar no chuveiro
    Conversar com um amigo
    Aprender algo novo

    Se possível simplifica a tua vida hoje
    Deixe-se entregar
    Simplesmente
    simples.

    [/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

  • Atrás de cada porta

    Atrás de cada porta

    [vc_row][vc_column width=”1/1″][vc_column_text css_animation=”bottom-to-top”]

    Temos um viés de confundir
    Não sabemos se é força ou forma
    Tempo ou intensidade
    Querer volátil
    Ou raízes que abraçam

    Ficamos entre teias e dilemas
    Costuras e encontros
    Não é o que baila diante da retina
    Mas o que nos desvenda quase sem querer

    Não é a boca
    Língua
    Dentes
    Fome…
    Mas o que a voz trás, embalando a alma
    Não é?

    Não é a distância que afasta e sucumbe
    Mas o abraço que aproxima laçando encontros
    Não é a pele
    Cheiro
    Cabelo
    Ou a cor

    Estas coisas são apenas portas fechadas
    Que tocamos entre as nossas semiabertas
    Não é a música mas o tom
    Não é a lágrima mas o que a arranca
    Não é a chegada mas a viagem

    Batemos a porta entre ânsias e medos
    Não sabemos se abrirá
    Mas ainda sim
    Bata…
    Bata…
    Bata.

    [/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

  • O que lhe causa a cor da minha pele?

    O que lhe causa a cor da minha pele?

    [vc_row][vc_column width=”1/1″][vc_column_text css_animation=”bottom-to-top”]Na construção da nação brasileira a cor da pele indígena e negra foi usada para o capricho do europeu colonizar e ostentar.

    A negra cor da pele para muitos leva a repulsa, o olhar de desprezo, o nojo, um ar de superioridade

    Por que isso?

    De onde vem esse sentimento que é renovado anos a após anos?

    Sentimentos que formam forjados nos bancos da academia das ciências sociais do Brasil, na tentativa de justificar o domino de um grupo étnico sobre o outro.

    Sentimento de inferioridade que fizeram muitos a negar-se, muitas vezes como um ato de sobrevivência em uma sociedade em que o ideal de branqueamento cimentou-se.

    A academia crio um mito da democracia brasileira, um país da harmonia racial que mascarou e ainda mascara o ódio pela cor da pele escura.

    Sentimentos que levam uma torcedora de futebol chamar um goleiro de macaco e sair como vítima no cenário nacional.

    Muitas vezes é difícil de compreender

    O que lhe causa a cor de minha pele?[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

  • Meio Ele – Meio Ela

    Meio Ele – Meio Ela

    [vc_row][vc_column width=”1/1″][vc_column_text css_animation=”appear”]Dóris pela manhã
    Alexandre a tarde
    Nenhum a noite
    Ela me liga pela manha, tem angustia na voz:
    Não sei o que eu sou – diz
    Não se preocupe com isso, viva – eu digo
    A tarde ele esta nervoso
    A noite não existe
    Dóris toca agora seus seios imaginários
    Esta despida diante do espelho
    E tem desejos que Alexandre não quer
    Dóris flor
    Dóris medo
    Vazio noite
    Alexandre tem um olha de garanhão castrado…
    A noite invade o dia
    Penetrando o luar em Dóris
    Dóris canta o que Alexandre chora
    A noite, sepulta as dores secretas de ambos
    O Desejo…
    A tentação…
    O tesão…
    Teus líquidos em ebulição…
    Alexandre noite
    Dóris mais tarde…
    Manha vazia de fecundidade
    É ternura
    Silencio… E adeus.
    [/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]