Categoria: Textos

  • Navalhadas Curtas – Pena Irritante

    Navalhadas Curtas – Pena Irritante

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    A noite cai em um domingo desmaiado de Covid. O prédio silencioso murmura falas abafadas por portas.
    Olhando o corredor tudo parece belo o mundo ideal das pessoas que vivem suas vidas talvez tranquilas e não se preocupam com outras vidas.
    Mas isso é um ledo engano.
    Vou buscar minha como todos os dias na clínica. Ela está bem dentro do quadro de suas doenças possibilitam.
    Fazemos da vida o melhor possível capturando breves momentos de felicidade. As vezes sorri, as vezes chora e as vezes nada.
    Chego com ela e seus passos vacilantes, então aquelas pessoas fechadas em seus apartamentos e comportadas em suas casas saem a porta ou eclodem então ficam paradas olhando para mim e principalmente lançam um olhar para minha mãe.
    E com uma arma invisível vestida de bondade, de um importar-se, mas não tanto, um verniz social que nos faz parecer pessoas tão boas.
    Um olhar de pena, um olhar capaz de matar até alguém são. Pena é um sentimento terrível que muita gente acha bom.
    Fico olhando para eles e disparo: e aí tudo bem?
    Eles respondem: coisa triste a pessoa ficar assim né?!
    Sendo que minha mãe estava ali presente e ouvindo.
    Pensei milhares de coisas para dizer mas disse apenas: creio que vocês precisam cuidar da vida de vocês agora, já !
    Eles se olharam certamente perceberam que não gostei nada de toda aquela cena, meu olhar através da mascara com certeza dizia várias coisas “lindas”.
    Sem dizer mais nada procuraram a saída mais próxima e sumiram da nossa frente.
    Minha mãe me pergunta quem eram?
    Eu disse gente de bem!
    Fio da Navalha.

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  • O Fio da Poesia | Paula Taitelbaum

    O Fio da Poesia | Paula Taitelbaum

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    Salvem as palavras extintas
    Flertes, bordões, reclames
    Slacks ou brim curingas
    Salves as meninas de família
    Com seus broches, berloques
    Anáguas e mobílias
    Salvem o religo cuco
    A escarradeira, os carpins
    O flit e anão de jardim
    Salvem a avos de antigamente
    Suas histórias
    E seus pingentes
    Salve a despensa
    O rolo de massa e o de cabelo
    O colecionador de maços e o de selos
    Salvem tudo que não existe mais
    Porque ainda gosto de olhar para trás.

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  • Navalhadas Curtas – Testando a empatia (Parte 3 )

    Navalhadas Curtas – Testando a empatia (Parte 3 )

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    Consigo chegar a lotérica sinto o dia transtornante com certos comportamentos humanos.
    A conta ainda precisava ser paga.
    Consigo chegar em uma loteria da Av Bento. Ruas cheias, algumas pessoas aglomeradas sem mascara falavam e falavam.
    Ignorei.
    Consigo estacionar o carro e no exato instante, um senhor me vê estacionando e já grita: tio ta bem cuidado!
    Novamente isso.
    Fui descendo do carro sem dizer absolutamente nada, e ele veio na minha direção, mascara no queixo bafo alcoólico se aproximou e:Seguinte tio tu “consegue” um trocado para o leite das criança?
    Olhei bem para ele: amigo só vim pagar uma conta rapidamente ali na frente…entendeu.
    Ele: mas as criança?
    Digo: olha amigo eu não julgo ninguém, talvez seja mesmo para as crianças mas pode ser para o tua cachaça também né?
    Que isso eu não bebo!
    Segui para pagar a conta.
    Consegui pagar e quando voltei para o carro o cidadão estava falando com outra pessoa para conseguir uns trocados porem ele colocou vários sacos de lixo atrás do meu carro para impedir a saída, sacos com latas e plásticos eu acredito.
    Esperei ele terminar de conversar com a outra pessoa e fui ao encontro dele.
    Ele se aproxima e digo que se era possível ele tirar os sacos detrás do veículo, ele para me olhando fixamente e segue: e o leite das crianças?
    Procuro moedas e realmente não tenho. Digo que não tenho.
    Ele me olha: é tem dinheiro pra pagar conta e não uma moeda?
    Não tenho.
    Ele recolhe os sacos com certa indignação meio trôpego e eu consigo sair.
    Saio, mas tem um peso em mim, um peso de olhar esse mundo, esse país e estas pessoas que estão assim na real tentando apenas sobreviver do jeito que dá.
    Mundo cão.
    Fio da Navalha.

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  • Navalhadas Curtas: Testando a empatia (Parte 2)

    Navalhadas Curtas: Testando a empatia (Parte 2)

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    Saindo do banco respirei profundamente e na real não desejo mal a quem quer que seja, estamos todos em uma guerra informal tentando sobreviver a tudo isso.
    Isso eu entendo.
    Dobro na Bento Gonçalves e reparo que a cada sinaleira que paro tem duas, três, quatro pessoas pedido algo alguma grana.
    Na próxima sinaleira que parei notei algo muito peculiar.
    Uma moça que entrava folhetos de construtora famosa da cidade, ela entre carros parados meio que selecionava os carros ela entregaria os folhetos.
    Bem acho de tá certo pensei em primeiro momento, afinal um bom carro indica bom investimento.
    Mas infelizmente o critério não era esse.
    Notei que ela não entregou o folheto para mim mesmo passando próximo a minha janela e não entregou para outro motorista negro que também ela passou ao lado.
    Fiquei com a cisma eu devo estar errado.
    Vamos fazer a prova então. Fiz um novo retorno para voltar a mesma sinaleira. Deu certo fiz o retorno e parei bem próximo da esquina praticamente ao lado da moça dos folhetos…e adivinhem?
    Ela nem me olhou e foi entregando ao cara do meu lado e fiquei observando pelo espelho a dois carros de mim tinha um outro negro e advinha? Claro ela não entregou a ele.
    Prova feita e realizada.
    Entendi que eu não tinha a cor correta para o empreendimento.
    Segui eu ainda precisava pagar a minha conta.
    Fio da Navalha.

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  • Navalhadas Curtas: Testando a empatia ( Parte 1 )

    Navalhadas Curtas: Testando a empatia ( Parte 1 )

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    Tem dia que as pessoas… tem dia que as pessoas fazem um certo esforço para nos levar um estado diferenciado.
    Infelizmente não tão positivo assim.
    Fui ao banco por uma necessidade mas ao estacionar frente ao Banrisul imediatamente surge um homem na casa dos seus vinte e poucos anos, sem máscara, um pouco sujo com cheiro que misturava um pouco de tudo: álcool, suor e sovaco vencido e excessivamente comunicativo.
    Eu não havia decido do carro ainda e ele já parou próximo bem próximo: pode deixar tá bem cuidado aí!
    Eu disse que sim mas não precisaria pois o caixa ficava em frente ao carro e separado por vidros…eu estaria vendo dali o carro.
    Ele não gostou nada.
    Paciência, nem sempre a gente se agrada de tudo. Entrei rapidamente no banco quando sai ele estava próximo a minha porta do carro e me olhando ou melhor me encarando.
    Fui em direção ao carro ele se colocou meio que lateralmente dizendo: todo mundo tem que colaborar…eu sei que o senhor sacou ali viu…
    Não gostei do tom.
    Mas ainda sim concordei com ele e disse precisava pagar uma conta.
    E não vai sobrar nada? Disse.
    Não respondi ligando o carro e fui saindo devagarinho.
    Fiquei pensando comigo que entendia a situação dele, mas aquilo não estava parecendo um pedido de ajuda e sim uma extorsão com uma certa violência implícita.
    Sai e ele ficou lá atrás gritando alguma coisa que era uma ameaça ao futuro tipo da próxima vez que parares aqui…etc.
    Fio da Navalha.

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  • Pérola do dia | T.S.Eliot

    Pérola do dia | T.S.Eliot

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  • O Fio da Literatura  |   Simone de BEAUVOIR.

    O Fio da Literatura | Simone de BEAUVOIR.

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    Por uma Moral da Ambiguidade
    ” Os homens de hoje parecem sentir mais vivamente mais do que nunca o paradoxo da sua condição.
    Eles se reconhecem pelo fim supremo ao qual toda a ação deve subordinar-se: mas a exigência da ação os obriga a tratarem uns aos outros como instrumentos ou obstáculos.
    Cada um deles tem nos lábios o gosto incomparável com a própria vida e no entanto cada um se sente mais insignificante que um inseto no meio de uma coletividade cujos os limites se confundem com os da terra: Talvez em nenhuma outra época tenham manifestado seu brilho e grandeza tenham sido atrozmente ultrajada.
    Apesar de tantas mentiras teimosas a cada instante e toda a ocasião a verdade vem a luz: a verdade da vida e da morte e minha solidão e de minha ligação com o mundo, de minha liberdade e minha servidão da insignificância e da soberana importância de cada homem e de todos os homens.
    Uma vez que não logramos a escapar a verdade tentemos pois olha-la de frente. Tentemos assumir nossa fundamental ambiguidade. É do conhecimento das condições autenticas da nossa vida que é preciso tirar a força de viver e razões para agir” .

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